sábado, 29 de janeiro de 2011

Estar e não ser, ser e não estar: vida que passa


Momentos estruturais que demarcam as territorialidades do estar e não ser, do ser e não estar. Emaranhados impõem desordens e ordens no estar-sendo entre espaços-tempos caóticos. Desequilíbrios inquietantes coparticipam de ebulições singulares. A vida passa. [...]. O volátil nega a duração, a multidimensionalidade do estar-sendo. Estigmatiza-se a presentificação.

            Um ponto zero que marca a vida é aquele representado pelo não-estar e não-ser. É o ponto em que o traço característico é a vida enquanto passagem volatilizada. Passa-se pela vida e deixasse a vida passar. Passar sem sentir, sem se mobilizar, sem se inquietar, sem ser. Uma vez, após mais de um mês sem ir ao encontro da minha analista, refleti sobre as ausências de mim mesmo.
            Essa parada para me ver refletido no que estava fazendo comigo mesmo me colocou diante de um ponto zero fundamental: o ponto que me levou ao sentido do valor que estava dando a minha vida.  Ao finalizar minha dissertação de mestrado, em 2003, escrevi que quem não é para si mesmo não pode ser para os outros. Eu não estava sendo para mim. A pergunta que me fiz colocou-me diante do espelho da vida, me fez zerar. Precisava me olhar, precisava procurar por mim, precisa de um reencontro comigo mesmo. Precisava Ser e Existir enquanto sujeito único, enquanto singularidade.
            Não é raro encontrar pessoas que sem pensar a si mesmos, sem se olhar, se perdem na existência, vivem uma vida que apenas passa. Vivem um tempo-espaço volatilizado que parece devorar a existência. Vivem sem ser e estar. Quando estão em determinados lugares, espaços, não são. Quando procuram Ser, não estão porque fogem de si, dos outros, do mundo. A vida é suprimida. Querem gritar e não gritam, querem amar e não amam, querem sentir e não se permitem. O Ser que habita em cada um de nós, o que somos e que precisa emergir do nosso interior, grita, pulsa, exige mudança.
            A vida não é unidirecional, não é uma reta, uma única via. É múltipla, é carregada de dimensões. Quando zeramos, o ser que há em nós, clama para se ver refletido, balbucia para se sentir ouvido. É uma escolha, é uma opção, é uma decisão se ver, se olhar, se sentir. Nos presentificamos quando somos, quando estamos inteiros, quando não nos escondemos. Como é bom quando nos reencontramos, quando nos achamos, quando nos vemos.
            Olhar para si é a oportunidade dada numa dessas paradas que a vida nos permite, num desses pontos que surgem nas desordens e nos desequilíbrios. Fugir, esconder-se, subtrair-se é estigmatização da presentificação. Estar presente de corpo inteiro, ser em sua multidimensionalidade é ampliar os muitos nós e sentidos que tramas as redes nas quais a vida esta sendo tecida. Hoje a vida não pode apenas passar. Ela tem que ser e estar. Deve presentificar-se.

NOGUEIRA, Valdir. 

8 comentários:

  1. hoje escrevi sobre as epígrafes nos textos do alberto manguel. vejo-as muito por aqui também. gosto muito. mais pra frente postarei sobre elas :)

    grande abraço, valdir!

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  2. GAIA diz:
    "Viver enquanto se espera...presentificar-se sempre nas marcas que deixamos, até mesmo, se nos ausentamos...marcamos nossas e de outras vidas até quando nos omitimos...
    Silenciar, isolar-se, esvaziar-se é viver a plenitude que ecoa na mansidão do mais pleno silêncio...o não pensar curador...alívio da alma, o permitir-se não SER exatamente por não ESTAR..."

    GEOZANI DE FÁTIMA COLONHESI

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  3. Gaia,
    De pleno acordo com essa ideia "O não pensar curador". Sabe, em muitos momentos a vontade é essa: não pensar. Ficar em um vazio total. Será que conseguimos?

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  4. GAIA DIZ:

    Cactus,

    As muitas vozes que gritam em nossos pensamentos tentam neutralizar este silêncio...
    Não é fácil! Talvez seja nossa maior luta...
    Silenciar nosso eu interior...
    Somos esmagados e submetidos às tantas vozes que aumentam a cada dia...
    Quanto mais nos isolamos mais elas gritam, como que... agonizando?
    Precisam parar... elas vão parar!
    Quando silenciam... hummm...
    A plenitude que brota do mais profundo de nosso abismo!
    O não pensar... o não sentir... o não falar...
    O NADA...apenas o NADA...experiência magnífica!!!!
    Quando nossos enfeites caem, nossos títulos nada acrescentam e nada tiram,
    Nossos papéis sociais deixam de existir...
    O desvelar da nudez social!!!
    O nada ser por simplesmente não estar...
    Ponto zero? Vida? Antivida? Agoras inexplicáveis? Existências negadas? Existências pró-vocadas?
    Alquimia da VIDA!!!! Apenas e tão somente...
    Nada esperar e tudo viver...
    O novo brotar...
    Na ousadia de esvaziar-se cada vez mais...
    Tirar cada peça...
    Abandonar aparências,
    Renunciar ao mundo sensível que nos pesa tanto...
    Retornar ao ventre da VIDA!!!

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  5. De Cactus para Gaia:

    Não há limites espaço-temporais; não há desafios intransponíveis quando se deseja SER, ESTAR, EXISTIR. O que há é o desespero de ter que aprender a lidar com o NADA, com a plenitude momentânea do vazio. Essa é a mais linda metamorfose que dispara o caos,a desordem e a nova ordem; a nova organização. O mergulho existencial pela busca do si mesmo; pela ruptura com o já conhecido e tornado habitual é, no mais puro sentido, o grito que liberta o novo ser: puro, sem máscaras, sem mácula. Como desprender-se dos nós? Como tornar-se folha ao vento quando instituições, estruturas, outros e outros ainda insistem em definir, em afirmar uma pseudovontade, um pseudoexistir? Querida Gaia, existir, de fato, exige enfrentamento do encontro com o NADA, com o PONTO ZERO. Quais seriam as outras exigências desse devir, desse MOSTRAR-SE? Para Schopenhauer isso é uma arte, a arte de conhecer a si mesmo. E como bem sabemos, a arte é criação. Precisamos re-criar o já criado.

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  6. De Gaia para Cactus:

    Interessante o desespero de ter que aprender a lidar com o NADA, com a plenitude momentânea do vazio...
    O NADA não nos ensina, não nos cobra, não deseja...apenas nos acolhe, nos cura, nos alivia...deixa fluir....
    Tempo e espaço não existente...apenas nos abastece, um novo fôlego para o vir a ser.
    Uma nova organização com certeza purificada, leve, genuína o SELF:

    "Si mesmo (ing. self, al. Selbst) é um termo que tem uma longa história na psicologia. William James, um dos pais da psicologia, distigue em 1892 entre o "eu", como a instância interna conhecedora (I as knower), e o "si mesmo", como o conhecimento que o indivíduo tem sobre si próprio (self as known)[1]. Baumeister (1993), partindo da definição de James e do trabalho de C. H. Cooley, propõe que o "si mesmo" se baseia em três experiências básicas do ser humano[2]:

    1. a consciência reflexiva, que é o conhecimento sobre si próprio e a capacidade de ter consciência de si;
    2. a interpessoalidade dos relacionamentos humanos, através dos quais o indivíduo recebe informações sobre si;
    3. a capacidade do ser humano de agir.

    Esse conhecimento que o "eu" tem sobre "si mesmo" tem dois aspectos distintos: por um lado um aspecto descritivo chamado autoimagem e por outro um aspecto valorativo, a autoestima.

    Segundo Carl Gustav Jung,“O Si mesmo representa o objetivo do homem inteiro, a saber, a realização de sua totalidade e de sua individualidade, com ou contra sua vontade. A dinâmica desse processo é o instinto, que vigia para que tudo o que pertence a uma vida individual figure ali, exatamente, com ou sem a concordância do sujeito, quer tenha consciência do que acontece, quer não.

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  7. MOSTRAR-SE em sua integralidade, totalidade em sentido inverso:

    Não SOU porque ESTOU, mas ESTOU e EXISTO porque SOU em todos os tempos e espaços que ocupo. Reflito e exalo o que SOU.

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