quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Conversas Presentificadas: Cactus e Gaia - Sobre pensar e sentir a vida


PARTE I

Cactus e Gaia, diante de uma experiência de vida que completa uma década, entram num dialogo fascinante e atual. Mostram perspectivas de vida que são atuais e que nos fazem pensar o modo de vida hodierno; sobre como nos constituímos e os sentidos que damos ao viver, ao ser, ao sentir e ao pensar.

E assim iniciou o diálogo:

Cactus se pronuncia: Ver e encontrar minha amiga de estudos e diálogos incríveis. Gaia respondeu: Fiquei emocionada. Prepare-se para nossas conversas porque eu agora estou focada no tema SABEDORIA. Cactus disse: E eu na LIBERDADE. Ela continuou: E na vida contemporânea. Estou pensando a liberdade e a complexidade, falou Cactus. Perguntas que me desafiam: livre porque complexo ou complexo livre? Ela respondeu: Interessante. Cactus se questiona novamente: Você é livre em sua complexidade ou a complexidade de seu existir te faz livre? Gaia Respondeu: Nos meus estudos entra isso também. Meus estudos são independentes. Cactus se posicionou: Isso é ótimo! A relação todo-parte. Singularidades, especificidades, unicidades. O uno-múltiplo e o múltiplo-indivisível.

Gaia continuou: Meu foco é no desenvolvimento das pessoas, independente dos papeis sociais. Cactus exclama: Você é ousada mesmo! E Gaia: É desafiador! Não estou presa em instituições. Cactus concorda: Libertar-se das instituições é o melhor caminho para ser feliz. Veja: liberdade! Gaia fala livremente: É por um tempo. Para expandir meus estudos. Porque não somos fora das instituições. Então preciso de um tempo fora. E Cactus diz: há sempre uma grande intencionalidade. E Gaia: Para depois retornar. Fui sufocada na última instituição. Então preciso reestruturar isso. Cactus não se contém: muito bom! Que processo lindo! Que maravilha de organização, desorganização, reorganização – a autopoiese acontecendo. Gaia reafirma: Estou usando isso, inclusive.

Cactus recomenda um livro para Gaia e diz: Lindo e necessário para nós, os loucos. Loucos por um mundo possível. Gaia investe em seu modelo de descoberta de si: Organizei assim minha orientação: autoconhecimento; auto-organização; autogerenciamento. Desmembro isso num processo. Cactus exclama: Que beleza! Gaia complementa: Oriento e também vivo o processo. Cactus retoma: É uma auto-hetero-descoberta. Gaia vê o horizonte do caminho sendo vivenciado: Cheguei num momento da minha vida que tenho que me descobrir. Cactus explode encantado: Nossa! Isso é mais lindo ainda! Mais desafiador ainda! Gaia coloca uma dúvida existencial, entra num universo de incerteza necessária: Agora como pensar em mim? Estou um pouco amedrontada. Cactus, nesse diálogo duvidante, pronuncia: Agora é como dar conta da sua grande pergunta, aquela que em todos esses momentos vividos sempre veio, foi e voltou. Cactus e Gaia mergulham no pluriverso da dúvida e da indagação; mergulham nas grandes questões que a vida lhes apresenta. Gaia afirma: É em torno dela que estou empenhando todos os conhecimentos: empíricos e teóricos.

Cactus diz: Como sempre conversamos, há uma força movendo tudo isso. É momento de um reencontro. Gaia e Cactus falam sobre um encontro entre ambos para partilhar a vida e as ideias de forma presentificada.  Gaia retoma a ideia de processo e busca e diz: Preciso construir esse percurso. Porque parece simples, mas não é. Cactus resgata ideias familiares aos dois em seus muitos momentos de troca e responde: Em hipótese alguma. No simples está o complexo, o dialógico, a multidimensionalidade do ser e do existir. Gaia afirma com contundência: Sim. E Cactus, numa lógica complementar reafirma: Isso é desafiador e me encanta! Gaia responde enternecida: Você nem imagina o quanto isso também me encanta. Cactus fala de uma escrita: Eu e os meus outros eus. Gaia se posiciona sobre o processo experienciado: Vivenciar isso com atenção e cautela em todos os seus momentos, significa conduzir outros. Cactus continua insistindo nos eus: A Gaia e os tantos outros eus dela convivendo em um só e agora se redescobrindo um outro novo eu. Ela completa: Que vivem também a mesma experiência. Estou na dimensão do sensível. Cactus diz: É uma dimensão que nos coloca em contato com o vazio.

Gaia entra no núcleo do nó de seu tecido: A dor do corte do vínculo. Sei que vou viver bem essa fase sem mascarar. Cactus busca um ponto dessa rede que é um dos nós: Lidar com a falta. Ela é necessária no crescimento, na descoberta de si e do outro.  Gaia se posiciona com astúcia: Ela que dará a diretriz para a próxima fase. Por isso me amedronta um pouco. Gaia continua e entra no tema de Cactus quando fala do encontro que terão: Vamos discutir essa questão da liberdade em todos os sentidos e sobre a sabedoria para administrar esta vida nova. Cactus confirma a proposição de Gaia e diz: Que maravilha. A liberdade, para mim, sempre foi uma grande questão e eu não sabia. Igual a sabedoria para você!

Gaia não esquece dos laços: Como sempre, sintonia eterna. Cactus afirma: Sim, isso. Gaia retoma falando sobre a convivência capaz de romper barreiras: nosso exemplo transcende ao sentido real de tempo e espaço. É uma presença constante. É incondicional. Cactus olha essa vivência como um rompimento: Isso mesmo! Rompemos com os paradigmas mecanicistas. Somos prova disso. Gaia retoma o tema da dor: Lembra a nossa dor na despedida? Cactus, ao lembrar do vivenciado com Gaia em outros tempos e espaços, diz: Sim, é ligação que transcende todas as barreiras e dimensões. Isso foi terrível. Gaia se posiciona: Mas foi necessário.

O dialogo parece não acabar: dor, separação, rompimento, convivência, trocas de energia etc., mesmo longe um do outro, as trocas deixam Gaia e Cactus ainda mais vivos, mais próximos, mais presentes. Gaia retoma: Crescemos e hoje somos testemunhas dessa situação. Dessa experiência. Uma década. Cactus fala: Por isso a dor e a separação às vezes nos afetam, mas sabemos que continua o encontro em outras dimensões. Isso tem que ser brindado! Uma década! Gaia confirma: É verdade. Cactus diz: uma década de vida no pleno sentido do existir. Gaia responde: Será maravilhoso. Cactus concorda: De fato! Uma ética responsável com o existir do outro! É lindo! Gaia esclarece tal sintonia e entendimento, a partir de uma lógica coerente com seu viver e seu existir: É porque quando nos ouvimos não existe padrão de avaliação. Nos construímos juntos. Cactus afirma o posicionamento de Gaia: Não há padrões. Perfeito! Gaia vai além: Também nos permitimos desconstruir. Cactus assume esse posicionamento, essa lógica e afirma: Os indicadores dessa construção histórica são outros. A desconstrução sempre necessária ao viver.

Gaia define: Somos eternos inconformados. Cactus concorda: Somos mesmo! Gaia segue: E sempre nos posicionamos na busca de algo, do desconhecido. Cactus lança seu olhar para suas forjas pessoais: Primeiramente somos inconformados com o que vivemos pessoalmente; nosso ser nos confronta todos os dias e tempos. Gaia, na seqüência da dialógica existencial, afirma o dito: É isso. Principalmente isso. E aí está o sentido, a priori, de liberdade para mim. Cactus não titubeia e diz: Perfeito! Gaia aprofunda: Eu me dou o direito de ser imperfeita. De pensar e repensar. Está dentro de mim. No íntimo do meu ser que sempre está em construção. Cactus também assume esse posicionamento de incompletude, de construir-se sempre: Me refaço numa constância, numa dinâmica irreversível! Gaia concorda e define: Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante. Cactus entra na mesma dança: Eu também!

Gaia relembra: Como nos velhos tempos, risos e lágrimas. Cactus concorda e diz: Dar conta disso é uma fazeção que não tem fim. A vida é assim. Choramos juntos, rimos juntos, construímos histórias, nos decepcionamos, lutamos. Gaia se pergunta: Ainda podemos desfrutar disso. Será que outros vivem isso? Não conheci ninguém com uma história assim. Gaia fala de uma escrita juntos: Escreveremos ainda algo juntos. Cactus responde: Uma outra proposta que subsidiará a forma de olhar para o ser e o viver. Gaia anuncia: Que será eternizado. Cactus exclama: Amo a ideia do eternizar! E também do presentificar. Veja, mesmo longe, estamos mais presentes do que nunca! Gaia confirma: Verdade. Cactus também: Explicar isso, jamais! Não precisa! Gaia, assim entende essa experiência do existir: É muito maior do que nosso entendimento. Cactus recorda uma lição apreendida com Gaia: Como você me disse uma vez: não precisamos justificar algumas coisas. Elas são porque são. Você me disse muito séria: não se justifique, o que está feito está feito! Como aprendi isso! Gaia se coloca: Essa foi minha maior aprendizagem e ensinamento também. Cactus diz: Sim, são as marcas que deixamos! O bom de tudo é que certo ou errado, ninguém pode tirar isso de você!
O dialogo continuará em outro momento. Fim da primeira parte.


NOGUEIRA, Valdir (Org.).
COLONHESI, Geozani Fátima.









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