domingo, 23 de janeiro de 2011

Alquimia de um amanhecer no jardim da vida

Nas primeiras horas daquele dia primaveril o Sol despontava irradiante tocando todos os seres, tempos e espaços do jardim da vida. Um jardim que nem sempre se consegue descrever, dadas às minúcias de tamanha complexidade. Dada à intensidade da força que o alimenta, o torna único e mágico.
Cada raio do Sol apontava para um aspecto, um ponto, um detalhe do jardim. Refletia muitos sentidos pelos diferentes tons e cores que passavam a coexistir com o brilho daquela luz. Por maior que fosse o esforço para descrever tal beleza, não se conseguia chegar à totalidade do colorido, da profusão da vida que emergia de forma tão magnífica naquele início de um novo dia.
De um lado, as roseiras se abriam para a vida a lhes trazer um colorido singelo e delicado; do outro, lírios bailavam ao vento, exibindo sua rara beleza. Muitas outras flores iam surgindo com o raiar do dia e despertando em si, a vida. Em cada uma delas, uma forma de tessitura, de bordado, de feitura.
Igual ao fazer da vida nas flores, ia se fazendo a vida na terra, no ar, no orvalho, nos caules, nos espinhos, nos brotos e nos outros pequenos e grandes seres que, no jardim se viam ao se fazer com ele.
Um frescor acompanhava aquele amanhecer multicolorido e dinâmico. Não se podia apenas passar pelo jardim ou olhá-lo de longe por alguns instantes. Era preciso sentir-se nele, estar lá. Ser também um jardim. Ser vida a brotar da experiência de viver; ser cor experimentando o significado de pertencer ao micro e macrocosmos; ser tecido se transformando em peça de rara existência.
Tal como a costureira dá vida nova ao novo modo de ser do tecido, o Sol dá vida nova ao novo modo de ser do jardim a cada novo amanhecer. Nada se repete porque o dia é outro. A vida já não é mais a mesma para cada uma das flores e dos tantos outros seres que fazem parte dessa humilde e frágil teia. A vida se renova, tal como se renova o casulo que se faz borboleta pronta para explorar o ar carregado de vitalidade.
Forjado em tempos-espaços múltiplos e entrelaçados, o jardim da vida não se finda. Finda o dia para que outro possa chegar com sua alquimia.

NOGUEIRA, Valdir.

Um comentário:

  1. Aí Valdir!

    Legal teres um blog também!
    Curti os textos; profundos. Meu preferido até agora foi o primeiro ;D

    Vou estar colocando o link do teu blog lá no meu assim que eu atualizar lá
    Se quiseres, da uma olhada:
    http://gfbusnardo.blogspot.com

    Abração!

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