Cala o vozerio externo.
Dispara ressonância interna. Falas que não sessam. Palavras que se
cruzam velozmente. Não se consegue interromper o fluxo. Não se
consegue apaziguar o trânsito. Euforia? Volúpia? Insano zigue zague.
Flamejante discurso . Vai o que não era. Fica o que não pode ser.
Tirânica desmedida. Sapiência na demência. Ordena-te parar.
Instrui-o estacionar. Nada e tudo entretecem-se no todo. Caótico
estágio. Transmutação epifânica. Realoca-se um não-lugar. Falta
o vazio. Extensa profanação. Desmedida que não se alinha. Marca
desconexa. Fonte regeneradora. Esperneante duvidar. Polaridades
inversas. Metaquímica sinérgica. Poiésis hercúlea. Frenesi
transitório. Estado anárquico. Clausura transgressora. Im-porta o
que não comporta. Desmente a mente - automentira. Expulsa o barulho
- gritaria. Demora-te. Alarga o Self. Arquetípico transeunte. Vento e rebeldia. Verbo.
dbnog
Um pensar sobre a vida
segunda-feira, 12 de maio de 2014
domingo, 9 de dezembro de 2012
Oikos Passageiro
Às vezes escuro. Temperaturas se alternam.
Movimento interno violento. Força que cala e desinstala. Fusão necessária.
Ebulição emergente. Do calabouço aos porões e destes aos sulcos dos vales.
Andante incessante. Navegador desorientado. Descalço, desalentado, frívolo e
efervescente. Indefinida forma. Composição extraída das entranhas. Casulo
atemporal. O que responde à dúvida e à incerteza? A própria dúvida incerta. O que
reponde à resposta? A pergunta que ela enseja. Variação multiforme. Medo
fluido. Nascedouro. Rompe as mais difíceis intempéries. Atravessa os acasos. Escutador
dos ventos e dos silêncios. Acessa as tramas. Trama os acessos. Transforma a Opacidade.
Segue a espiralada trajetória. Inusitada alquimia. Feitiçaria inconsciente. Movediça
sombra. Modelagem singular. Marca que se projeta. Crivo inegável. Observados os
observantes. Alto e íngreme. Trânsito afetado. Conteúdo descabido. Variação
interconexa. Frágil corpo. Vida incerta. Instantes metamorfoseados. Entranhas se dissipam em complexas
redes. Alternâncias coagulantes. Sem distorção, nem alucinógenos. Dor e vazio. Camadas
se rompem. Fissuras expandem-se. Traços multicoloridos. Linhas
interdependentes. Espasmos caóticos e delirantes. Dreno incessante. Chegar do outro lado. Sentir a outra forma.
Mais uma espera. Outra transformação. Cálida luz. Circundante balanço. Foi
assim o processo que constituiu a forma.
E a forma, por sua vez, deu vida ao
processo. Forma e processo agora são o que o casulo permitiu ser. Guardião
espaço-temporal da transmutação. Oikos
passageiro. Ventre da certeza-incerta. Guardador de frágil embrião. De fora sem
olhar para dentro. De dentro desejando olhar para fora. Dentro e fora do que
está dentro e do que está fora – novelo, ninho e nó. Superação demasiada. Força
absurda. Vôo necessário. Interpenetram-se as variadas dimensões. Olhares,
sentidos e espelhos se amplificam. Viver o que é possível no inacabado corpo e
na im-perfeita forma é o que define a
transição entre forma anterior – de fora e de dentro, que agora é dentro e fora
da forma que não conforma. Carregada força vital que fez do in-definido escuro de outrora o claro e
colorido sobrevôo definido de agora. A vida é recolocada na paleta e o artista
redefinirá a forma na tela ainda não esboçada. Rabiscos são alinhavados pelos
noviços ziguezagues sobre jardins. O novo sopro segue sua travessia explorando
pigmentos, odores e sabores. Os instantes se redefinem. O viver se refaz. Como
num longo e talvez, curto caminho, a vida se estampa. Projeta-se no in-defindo projeto de estar no
tempo-espaço que lhe escapa e lhe define projeto em ser.
DbNog.
domingo, 9 de setembro de 2012
Andança e Humildade
Foi
apenas um instante. Uma fração de segundos. E tudo que se pode contemplar
ampliou as formas de olhar para a vida e para o mundo. Tudo muito simples. Tudo
muito imenso. Minucias. Detalhes. Visão focada. Impossível capturar todos os sentidos.
O mundo tornava-se outro. A vida refazia-se. Atenção à janela espiralada. Multifocal.
O mergulho parecia insuficiente. Lançar-se era a aposta. Estar naquela efervescência,
naquele caldeirão místico e único. Atingir o além do além. Esforço redobrado. Mente
e espirito entretecidos. Lampejos e profusão de significados. Espelhos e
reflexos nas superfícies do não-superficial. Parar no tempo do tempo que se é. De
dentro, olhá-lo. De fora, senti-lo. Sublime nota musical. Nesse momento o Ente parou e ficou extasiado. Já não
podia continuar seu discurso. Estava encharcado de tanta beleza. Foi a vez do Elfo se pronunciar. Qual paleta de cores
poderia dar conta de tamanha riqueza? Quais perfumes poderiam assumir os
tempos-espaços de tão sutil presença? Que sabores poderiam se destacar nesta inconfundível
sensibilidade? O rio junta-se ao mar. O céu sustenta estrelas e sois. Os ventos
sopram incansáveis. As águas escorrem para cantos diversos. Os colibris visitam
formosas floreiras nas mais amáveis primaveras. Sem indiferença. Demasiadamente
presente. Constante. Inusitada forma simbólica. Há na calmaria uma espera e na
espera um movimento. Zumbidos e sinais. As primícias do verão. Incansáveis. Vida
acontecendo no acontecido. Mistura e bálsamo. Tocar no intocável. Alcançar o inalcançável.
Diminuta passada. Pegadas de futuros passados. Sincronia de presentes futuros. São
muitas as linhas. Os traços desequilibram-se. Esboços e rasuras. Ouça com os
olhos. Veja com os ouvidos. O Ente
voltou-se para o Elfo e falou com os
poros. O Elfo surpreendeu-se ao falar
com os suspiros. Reverenciando a simples forma de vida, escolheram caminhar no
interior de si mesmo rumo a outras direções. A pequena flor já cumprira seu
papel naquele tempo ensolarado. Antes de seguirem o caminho - única regra que
lhes fazia bem, o Elfo pronunciou-se:
a Esperança é como esta pequena flor, gigante adormecido no coração dos homens.
Para despertá-la exige-se um segundo, uma fração de tempo dedicado a contemplar
o que se é e se pode ser em sendo. E o porvir é como esse campo – imenso território,
tal como imenso é o coração humano, capaz de sustentar a flor e tudo o mais que
ela representar. Tocando-a com seu espírito, o Ente levantou-se, segurou o amigo Elfo e comentou: quem sabe os humanos ainda consigam, em tempo, deixar
o orvalho lhes tocar com toda a vitalidade que ele enseja em seu orvalhar. Quem
sabe, esses homens e mulheres consigam não apenas respirar o ar da sabedoria,
mas também, se alimentar do húmus da compaixão. Quem sabe, aprendam a caminhar
para dentro de si mesmos quando deixarem as singelas flores lhes falar da vida.
Só enxerga a beleza de uma flor solitária aquele que deixou florir dentro de si
o mais belo dos jardins: a humildade. Os dois seguiram. Continuaram a andança. Quem
sabe, voltariam a ver com os ouvidos, ouvir com os olhos e falar com os poros e
os suspiros em outras fendas temporais.
DbNog.
quarta-feira, 11 de julho de 2012
Amplo Olhar: além do campo 66
Está bem perto. Não é imperceptível,
mas precisa ampliar o olhar para ver. Foi o que disse o Ente. O Elfo retrucou:
Como se pode ver o que já se tornou habitual? Nem ampliando os sentidos
conseguirão tal proeza. Insistiu o Ente:
A vida não se mostra apenas no aparentemente visível. É preciso olhar os
detalhes, as minúcias, as coisas simples. Ela se tece na constância das
pequenas coisas, nos pequenos gestos. Ela se recria no infinitesimal, na
singularidade das ações. É parte e totalidade. Partícula e força. Saindo quase
que em silêncio, o Elfo sussurrou: Nessa
profundidade complexa da existência, o invisível precisa tornar-se visível. O habitual
pode ser reflexo da ausência de resiliência e o aparentemente visto, pode ser
resultado da escuridão na qual estão mergulhados muitos dos humanos já
distanciados de si mesmos. Acrescentou o Ente:
é preciso grau acentuado de ousada coragem para tamanho desafio. Este olhar
para dentro, tecendo-se com o olhar para fora, pode, em tempo, ajudar o homem a
enxergar em que parte do novelo se encontra a parte do fio que ele é componente.
E, ao olhar para essa tão frágil e tão forte parte, perguntar-se sobre como continuará
sendo fio, novelo e tecido nessa casa-comum.
DbNog.
sábado, 7 de julho de 2012
Referendado
Sacrifício
referendado. Cela escura. Prisão gélida. Abismo inexpressivo. Vida esguia. Não há
apelo. Não há calor. Falésia condensada. Atmosfera deprimente. Para onde
correr? Como sair dos fulcros que se formam? Como superar as epidemias que se
agrupam? O ócio virou vicio. Escravizado espírito que grita inaudível som. Danosa
maquinaria. Arde a face queimada na cortante ventania. Espasmos melancólicos e
delirantes transitam em preto e branco. Fúria e inoperância guerreiam. Estado deplorável
do viver. Pensa os teus medos. Encerra os teus dias. Conta os teus sussurros. Desvia
as tuas sangrentas ideias. Mármore inóspito. Na quadratura disfarçada com
linhas torpes, jazem o carcereiro e o anfitrião. Nem Sol, nem Lua, nem Luz. Passadiço
fétido cujo produto é a esquizofrenia. Ilha arquitetada na tortura. Tolices que
se despem diante de olhos mecânicos. Gravidade do volátil tempo e da efêmera vida.
Sobra das sobras. Resto insuportável. Já foi o brilho. Já passou a euforia. Espera
doentia. Invisíveis não se disfarçam. Esconderijos não-eternos. Covil. Ante-sala
orgástica. Lamentos no vácuo. Lágrima petrificada. Voz anulada em si mesma. Engrandece
tuas transmutações. Vê de longe. Escada inferior. Montanha enfurecida. Nobre poder.
Saúda tuas singulares fortificações. Espírito livre. Fogo ardente. Átomo insuperável.
Risca as paredes. Pinta os pilares. Rasga a tinta pueril. Escreve na grade. Rompe
de dentro os teus ideais. Presídio externo. Fortifica tuas vísceras. Enaltece as
tuas aptidões. Experimenta o remoio. Risca o chão. Desestabiliza as ordens. Corporifica.
Desautoriza.
DbNog.
terça-feira, 26 de junho de 2012
Entretortura
Aplausos
soam como orgias mentais. Falsamente manifestam seu estado deplorável de
falibilidade e malevolência. Auto-engano. Jurisprudência de causa insana.
Corvos e lobos sorrateiramente se manifestam. Fuligem venenosa se espalha na
atmosfera mortal. Hierarquia no templo da mediocridade. Famigerado e demagogo
discurso. Delírio de múmias putrefatas. Jogo de insolentes. Casa de moribundos.
Olhos de abutres ansiosos pela carniça. Palavras distorcidas. Engodo e farsa.
Jeito trágico para esconder rostos. Faces que não se mostram. Som arrepiante.
Seguem maquiavélicos despindo-se das farpas. Espinhos são beijos. Trocas
desmedidas. Alguns gritam ensandecidos. Soberbos de si mesmos. Outros se calam.
Vermes desnecessários. Malfadada e hipócrita escolha. Suspeita de atroz cilada.
Seguem a dança dos oficiais. Exaltam-se os burocratas. Vergonha e acidez
compõem o mesmo caldo. Estranho condimento. O ninho das larvas. Corrosivo
destino. Colunas de areia. Château Vent.
Passadiço de tempo perdido. Túneis abrasivos. Corpos dilacerados. Mentes prostituídas.
Virulência e esquizofrenia. Estado depreciativo. Segue-se a falação. Viva o
Cavalo de Tróia! Salve a Empalada! São outros os instrumentos. São novas as
torturas. Sagazes e suaves às armadilhas. Maquinaria de tolos. Abrigo das
malvadezas. Diminuta lâmina sanguinária. Astuta necessidade diplomática.
Aplausos e mais aplausos! Eis a tua sina. Eis a tua planície. Rasteja em teu
não-desejo. Violenta a tua mornidão. Derruba as tuas resistências. Os sombrios
são avarentos. Os nobres são puros. Segue para a montanha. Desnuda-te! Despe o
manto. Deixa emergir a alforria, guerreiro de si mesmo. Rompe os véus. Cria-se a entretortura. Criatura e criador.
DbNog.
segunda-feira, 18 de junho de 2012
CAMPO ‘66’
Título da Tela: Um bosque em Outubro
Reforçou o Ente - tente entender, você é uma das formas mais belas que a Natureza
encontrou para definir a pulsão criativa com a qual ela age no mundo, dando
origem aos mais frágeis e magníficos seres. Isso eu entendo, disse o Elfo. E completou: o que eu não entendo é
porque os humanos não conseguem enxergar o valor dessa tão complexa obra e
continuam produzindo, de modo acelerado, formas de negação e depreciação dos seus semelhantes
e dos seus diferentes – tão fortes e tão frágeis, belos e criativos como tudo que há na imensidão
do Cosmos e desse pequeno Planeta, nossa casa comum. Aliás, os humanos, será que conseguem, na
complexidade do seu viver, entender o seu não entendimento? Perguntou o Elfo. O Ente não ousou responder tal
pergunta em estado efusivo e voltou-se para si. Ficou naquele pêndulo arbóreo pensando
sobre seus pensamentos e suas preocupações com os perigos e a situação da vida
no campo ‘66’, onde vivem os transeuntes, as sobras oriundas dos desertos
continentais.
Em tempos de Rio+20!
Em tempos de Rio+20!
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