segunda-feira, 12 de maio de 2014

Cala o vozerio externo. Dispara ressonância interna. Falas que não sessam. Palavras que se cruzam velozmente. Não se consegue interromper o fluxo. Não se consegue apaziguar o trânsito. Euforia? Volúpia? Insano zigue zague. Flamejante discurso . Vai o que não era. Fica o que não pode ser. Tirânica desmedida. Sapiência na demência. Ordena-te parar. Instrui-o estacionar. Nada e tudo entretecem-se no todo. Caótico estágio. Transmutação epifânica. Realoca-se um não-lugar. Falta o vazio. Extensa profanação. Desmedida que não se alinha. Marca desconexa. Fonte regeneradora. Esperneante duvidar. Polaridades inversas. Metaquímica sinérgica. Poiésis hercúlea. Frenesi transitório. Estado anárquico. Clausura transgressora. Im-porta o que não comporta. Desmente a mente - automentira. Expulsa o barulho - gritaria. Demora-te. Alarga o Self. Arquetípico transeunte. Vento e rebeldia. Verbo. 

domingo, 9 de dezembro de 2012

Oikos Passageiro


 
 
Às vezes escuro. Temperaturas se alternam. Movimento interno violento. Força que cala e desinstala. Fusão necessária. Ebulição emergente. Do calabouço aos porões e destes aos sulcos dos vales. Andante incessante. Navegador desorientado. Descalço, desalentado, frívolo e efervescente. Indefinida forma. Composição extraída das entranhas. Casulo atemporal. O que responde à dúvida e à incerteza? A própria dúvida incerta. O que reponde à resposta? A pergunta que ela enseja. Variação multiforme. Medo fluido. Nascedouro. Rompe as mais difíceis intempéries. Atravessa os acasos. Escutador dos ventos e dos silêncios. Acessa as tramas. Trama os acessos. Transforma a Opacidade. Segue a espiralada trajetória. Inusitada alquimia. Feitiçaria inconsciente. Movediça sombra. Modelagem singular. Marca que se projeta. Crivo inegável. Observados os observantes. Alto e íngreme. Trânsito afetado. Conteúdo descabido. Variação interconexa. Frágil corpo. Vida incerta. Instantes metamorfoseados. Entranhas se dissipam em complexas redes. Alternâncias coagulantes. Sem distorção, nem alucinógenos. Dor e vazio. Camadas se rompem. Fissuras expandem-se. Traços multicoloridos. Linhas interdependentes. Espasmos caóticos e delirantes. Dreno incessante.  Chegar do outro lado. Sentir a outra forma. Mais uma espera. Outra transformação. Cálida luz. Circundante balanço. Foi assim o processo que constituiu a forma.
 
 
E a forma, por sua vez, deu vida ao processo. Forma e processo agora são o que o casulo permitiu ser. Guardião espaço-temporal da transmutação. Oikos passageiro. Ventre da certeza-incerta. Guardador de frágil embrião. De fora sem olhar para dentro. De dentro desejando olhar para fora. Dentro e fora do que está dentro e do que está fora – novelo, ninho e nó. Superação demasiada. Força absurda. Vôo necessário. Interpenetram-se as variadas dimensões. Olhares, sentidos e espelhos se amplificam. Viver o que é possível no inacabado corpo e na im-perfeita forma é o que define a transição entre forma anterior – de fora e de dentro, que agora é dentro e fora da forma que não conforma. Carregada força vital que fez do in-definido escuro de outrora o claro e colorido sobrevôo definido de agora. A vida é recolocada na paleta e o artista redefinirá a forma na tela ainda não esboçada. Rabiscos são alinhavados pelos noviços ziguezagues sobre jardins. O novo sopro segue sua travessia explorando pigmentos, odores e sabores. Os instantes se redefinem. O viver se refaz. Como num longo e talvez, curto caminho, a vida se estampa. Projeta-se no in-defindo projeto de estar no tempo-espaço que lhe escapa e lhe define projeto em ser.
 
 
 
 
DbNog.

domingo, 9 de setembro de 2012

Andança e Humildade




Foi apenas um instante. Uma fração de segundos. E tudo que se pode contemplar ampliou as formas de olhar para a vida e para o mundo. Tudo muito simples. Tudo muito imenso. Minucias. Detalhes. Visão focada. Impossível capturar todos os sentidos. O mundo tornava-se outro. A vida refazia-se. Atenção à janela espiralada. Multifocal. O mergulho parecia insuficiente. Lançar-se era a aposta. Estar naquela efervescência, naquele caldeirão místico e único. Atingir o além do além. Esforço redobrado. Mente e espirito entretecidos. Lampejos e profusão de significados. Espelhos e reflexos nas superfícies do não-superficial. Parar no tempo do tempo que se é. De dentro, olhá-lo. De fora, senti-lo. Sublime nota musical. Nesse momento o Ente parou e ficou extasiado. Já não podia continuar seu discurso. Estava encharcado de tanta beleza. Foi a vez do Elfo se pronunciar. Qual paleta de cores poderia dar conta de tamanha riqueza? Quais perfumes poderiam assumir os tempos-espaços de tão sutil presença? Que sabores poderiam se destacar nesta inconfundível sensibilidade? O rio junta-se ao mar. O céu sustenta estrelas e sois. Os ventos sopram incansáveis. As águas escorrem para cantos diversos. Os colibris visitam formosas floreiras nas mais amáveis primaveras. Sem indiferença. Demasiadamente presente. Constante. Inusitada forma simbólica. Há na calmaria uma espera e na espera um movimento. Zumbidos e sinais. As primícias do verão. Incansáveis. Vida acontecendo no acontecido. Mistura e bálsamo. Tocar no intocável. Alcançar o inalcançável. Diminuta passada. Pegadas de futuros passados. Sincronia de presentes futuros. São muitas as linhas. Os traços desequilibram-se. Esboços e rasuras. Ouça com os olhos. Veja com os ouvidos. O Ente voltou-se para o Elfo e falou com os poros. O Elfo surpreendeu-se ao falar com os suspiros. Reverenciando a simples forma de vida, escolheram caminhar no interior de si mesmo rumo a outras direções. A pequena flor já cumprira seu papel naquele tempo ensolarado. Antes de seguirem o caminho - única regra que lhes fazia bem, o Elfo pronunciou-se: a Esperança é como esta pequena flor, gigante adormecido no coração dos homens. Para despertá-la exige-se um segundo, uma fração de tempo dedicado a contemplar o que se é e se pode ser em sendo. E o porvir é como esse campo – imenso território, tal como imenso é o coração humano, capaz de sustentar a flor e tudo o mais que ela representar. Tocando-a com seu espírito, o Ente levantou-se, segurou o amigo Elfo e comentou: quem sabe os humanos ainda consigam, em tempo, deixar o orvalho lhes tocar com toda a vitalidade que ele enseja em seu orvalhar. Quem sabe, esses homens e mulheres consigam não apenas respirar o ar da sabedoria, mas também, se alimentar do húmus da compaixão. Quem sabe, aprendam a caminhar para dentro de si mesmos quando deixarem as singelas flores lhes falar da vida. Só enxerga a beleza de uma flor solitária aquele que deixou florir dentro de si o mais belo dos jardins: a humildade. Os dois seguiram. Continuaram a andança. Quem sabe, voltariam a ver com os ouvidos, ouvir com os olhos e falar com os poros e os suspiros em outras fendas temporais.

DbNog.  

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Amplo Olhar: além do campo 66


Está bem perto. Não é imperceptível, mas precisa ampliar o olhar para ver. Foi o que disse o Ente. O Elfo retrucou: Como se pode ver o que já se tornou habitual? Nem ampliando os sentidos conseguirão tal proeza. Insistiu o Ente: A vida não se mostra apenas no aparentemente visível. É preciso olhar os detalhes, as minúcias, as coisas simples. Ela se tece na constância das pequenas coisas, nos pequenos gestos. Ela se recria no infinitesimal, na singularidade das ações. É parte e totalidade. Partícula e força. Saindo quase que em silêncio, o Elfo sussurrou: Nessa profundidade complexa da existência, o invisível precisa tornar-se visível. O habitual pode ser reflexo da ausência de resiliência e o aparentemente visto, pode ser resultado da escuridão na qual estão mergulhados muitos dos humanos já distanciados de si mesmos. Acrescentou o Ente: é preciso grau acentuado de ousada coragem para tamanho desafio. Este olhar para dentro, tecendo-se com o olhar para fora, pode, em tempo, ajudar o homem a enxergar em que parte do novelo se encontra a parte do fio que ele é componente. E, ao olhar para essa tão frágil e tão forte parte, perguntar-se sobre como continuará sendo fio, novelo e tecido nessa casa-comum. 

DbNog

sábado, 7 de julho de 2012

Referendado


Sacrifício referendado. Cela escura. Prisão gélida. Abismo inexpressivo. Vida esguia. Não há apelo. Não há calor. Falésia condensada. Atmosfera deprimente. Para onde correr? Como sair dos fulcros que se formam? Como superar as epidemias que se agrupam? O ócio virou vicio. Escravizado espírito que grita inaudível som. Danosa maquinaria. Arde a face queimada na cortante ventania. Espasmos melancólicos e delirantes transitam em preto e branco. Fúria e inoperância guerreiam. Estado deplorável do viver. Pensa os teus medos. Encerra os teus dias. Conta os teus sussurros. Desvia as tuas sangrentas ideias. Mármore inóspito. Na quadratura disfarçada com linhas torpes, jazem o carcereiro e o anfitrião. Nem Sol, nem Lua, nem Luz. Passadiço fétido cujo produto é a esquizofrenia. Ilha arquitetada na tortura. Tolices que se despem diante de olhos mecânicos. Gravidade do volátil tempo e da efêmera vida. Sobra das sobras. Resto insuportável. Já foi o brilho. Já passou a euforia. Espera doentia. Invisíveis não se disfarçam. Esconderijos não-eternos. Covil. Ante-sala orgástica. Lamentos no vácuo. Lágrima petrificada. Voz anulada em si mesma. Engrandece tuas transmutações. Vê de longe. Escada inferior. Montanha enfurecida. Nobre poder. Saúda tuas singulares fortificações. Espírito livre. Fogo ardente. Átomo insuperável. Risca as paredes. Pinta os pilares. Rasga a tinta pueril. Escreve na grade. Rompe de dentro os teus ideais. Presídio externo. Fortifica tuas vísceras. Enaltece as tuas aptidões. Experimenta o remoio. Risca o chão. Desestabiliza as ordens. Corporifica. Desautoriza.  

DbNog. 

terça-feira, 26 de junho de 2012

Entretortura



Aplausos soam como orgias mentais. Falsamente manifestam seu estado deplorável de falibilidade e malevolência. Auto-engano. Jurisprudência de causa insana. Corvos e lobos sorrateiramente se manifestam. Fuligem venenosa se espalha na atmosfera mortal. Hierarquia no templo da mediocridade. Famigerado e demagogo discurso. Delírio de múmias putrefatas. Jogo de insolentes. Casa de moribundos. Olhos de abutres ansiosos pela carniça. Palavras distorcidas. Engodo e farsa. Jeito trágico para esconder rostos. Faces que não se mostram. Som arrepiante. Seguem maquiavélicos despindo-se das farpas. Espinhos são beijos. Trocas desmedidas. Alguns gritam ensandecidos. Soberbos de si mesmos. Outros se calam. Vermes desnecessários. Malfadada e hipócrita escolha. Suspeita de atroz cilada. Seguem a dança dos oficiais. Exaltam-se os burocratas. Vergonha e acidez compõem o mesmo caldo. Estranho condimento. O ninho das larvas. Corrosivo destino. Colunas de areia. Château Vent. Passadiço de tempo perdido. Túneis abrasivos. Corpos dilacerados. Mentes prostituídas. Virulência e esquizofrenia. Estado depreciativo. Segue-se a falação. Viva o Cavalo de Tróia! Salve a Empalada! São outros os instrumentos. São novas as torturas. Sagazes e suaves às armadilhas. Maquinaria de tolos. Abrigo das malvadezas. Diminuta lâmina sanguinária. Astuta necessidade diplomática. Aplausos e mais aplausos! Eis a tua sina. Eis a tua planície. Rasteja em teu não-desejo. Violenta a tua mornidão. Derruba as tuas resistências. Os sombrios são avarentos. Os nobres são puros. Segue para a montanha. Desnuda-te! Despe o manto. Deixa emergir a alforria, guerreiro de si mesmo. Rompe os véus. Cria-se a entretortura. Criatura e criador.

DbNog.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

CAMPO ‘66’

                                                    Título da Tela: Um bosque em Outubro

 Reforçou o Ente - tente entender, você é uma das formas mais belas que a Natureza encontrou para definir a pulsão criativa com a qual ela age no mundo, dando origem aos mais frágeis e magníficos seres. Isso eu entendo, disse o Elfo. E completou: o que eu não entendo é porque os humanos não conseguem enxergar o valor dessa tão complexa obra e continuam produzindo, de modo acelerado, formas de negação e depreciação dos seus semelhantes e dos seus diferentes – tão fortes e tão frágeis, belos e criativos como tudo que há na imensidão do Cosmos e desse pequeno Planeta, nossa casa comum.  Aliás, os humanos, será que conseguem, na complexidade do seu viver, entender o seu não entendimento? Perguntou o Elfo. O Ente não ousou responder tal pergunta em estado efusivo e voltou-se para si. Ficou naquele pêndulo arbóreo pensando sobre seus pensamentos e suas preocupações com os perigos e a situação da vida no campo ‘66’, onde vivem os transeuntes, as sobras oriundas dos desertos continentais.


Em tempos de Rio+20!

DbNog.  


Fonte da Figura: http://www.toucanart.com/pt/products/9960/