sexta-feira, 11 de março de 2011

As duas escadas


Galgar degraus. Subir e descer. Estar no alto. Sentir o chão. As escadas conectam dimensões. Elas produzem efeitos diversos, segundo o ponto de vista de cada um. Elas levam de um lugar para o outro. Transportam de um ponto ao outro. As escadas são muitas e muito diferentes. Para uns, elas são metáforas, para outros, analogias. Algumas são lineares, outras complexas. Algumas definem ambientes, outras definem vidas. Algumas seguem lógicas naturais, outras seguem a pura racionalidade. Para alguns, elas são apenas utilitários, para outros, são palcos de fortes acontecimentos. O que representa a escada para cada vivente, para cada existência fluída, nesse cosmo social e planetário? Talvez representem passagens, transgressões ou transcendências. As escadas, em cada forma, em cada lugar e contexto, são sempre possibilidades. Podem indicar de onde parte e para onde vai aquele que por ela passou. Passa-se por muitas escadas ao longo da vida. Nos diferentes tempos do existir, convive-se cotidianamente com elas. Estão em todos os lugares. Algumas, muito visíveis; outras, mais escondidas. Algumas delas quase imperceptíveis. Pelas escadas circulam universos imaginários, fantasias e ilusões. Nelas e com elas se podem fazer experimentos capazes de mudar o curso de uma vida. Escadas guardam registros históricos. Elas podem abrir frestas capazes de produzir recordações e sensações muito singulares. Muitas escadas emocionam. Outras compõem cenários de momentos únicos. Escadas enaltecem. São nobres. Com elas se vivem momentos de pura ludicidade, poesia e prosa. Vive-se o gozo da arte e da criação. Há certo poder que move esse artefato, essa moldura, essa construção sociocultural. As escadas promovem, sem querer, encontros e desencontros. Nelas a diversidade e a singularidade se misturam e se mesclam. Elas são híbridas. Passam pelas escadas, os sonhos, as possibilidades, as esperanças, os desejos, as vontades, os segredos, os mistérios do que existe e preexiste. Não importa o tamanho, a largura ou o material do que são feitas, as escadas fazem parte de estruturas e mundos muito específicos. Alguns passam pelas escadas cheios de intencionalidades, outros, completamente vazios, sem vida. As escadas são espaços carregados de afetos. Ajudam a pertencer, a presentificar-se.


Pós-escrito

As duas escadas que encontrei certo dia me possibilitaram pensar sobre como elas estão presentes em minha vida e também, sobre como estou no meu presente, no meu agora após ter passado por elas. Foi um momento único, numa tarde ensolarada.

NOGUEIRA, Valdir.
Db.Nog.



5 comentários:

  1. Garanto que por inúmeras escadas que passamos, as que mais marcam são as que nos emocionam, as escadas da vida.

    Estamos subindo-as!!

    Abraços, gui

    ResponderExcluir
  2. Cada dia é um novo degrau.

    Sobre a foto:
    Me chamou muito a atenção, uma vez que lembrei de uma escada de pedras enterradas no chão, que levavam à praia, aí em Barra Velha, na antiga cassa de praia do meu vô.
    Pura sensação de nostalgia ao ler o texto.

    Aquele abraço Valdir!

    ResponderExcluir
  3. Nostalgia boa, Gui! Ainda mais quando lembramos dos avós.

    Abraços!

    ResponderExcluir
  4. Valdir, lindo pensar sobre essas escadas como presentificação da esperança!

    ResponderExcluir