domingo, 18 de setembro de 2011

DESTA JANELA


Daqui desta janela, olho para o mundo externo e vejo a vida que passa. Vejo também a vida que é projetada a um futuro que não pode ser no presente. No hoje vivido, a vida apenas passa com aquele que corre no parque; com o pássaro que voa livre no céu nublado; com as árvores que parecem inertes no tempo e no espaço. A vida passa e vê-la, senti-la passar é deveras torturante, mas também, desafiador porque move o devir. Move a vontade de participar do viver, do fluir contínuo sem se ver excluído, sem se colocar numa prisão mesmo estando livre. Daqui desta janela, vejo vida e não-vida. Vejo o projeto de um viver que se descortina no vivido e o vivido que não se quer repetir vivendo. Vejo o que é vida para quem está e pertence e o que é viver sem vida para quem nunca esteve e nunca pertenceu. Esta janela não é ampla, mas de onde estou posso ver ainda, uma dinâmica externa que produz uma dinâmica interna; posso ver um movimento de transeuntes que movimenta o desejo da transição, a necessidade da transformação. Desta janela, como num afunilamento, vejo um risco de Sol que resiste ao acinzentado do céu; um risco de luz que acende a esperança de outra possibilidade de vida para que esta não apenas passe; para que não apenas siga no tempo, mas que seja e flua em tempos que coexistem. Desta janela vejo a grandeza do sonho de estar em outras janelas vivas de onde se possa ver e sentir a vida sem que ela apenas passe, mas que ela, em plenitude e em profundidade, seja. Desta janela onde estou fixo anseio o fluxo, a contingência da vida experimentada, sentida, vivida. 

DbNog.
NOGUEIRA, Valdir. 

Um comentário:

  1. JANELA, EXPRESSÃO DE BUSCA DA VIDA-VIVIDA-PLENAMENTE...JANELA DE ALMA BONITA, CARREGADA DE ESPERANÇA DE TEMPOS-SONHOS...

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